Bruxelas, capital da Europa

Bruxelas é capital da Bélgica e a sua maior cidade, até pode ser alcunhada como a capital da União Europeia, mas não é de forma alguma o mais bonito nem o mais importante para ser visitado neste país. Nesse aspeto, Bruges, Gante e Antuérpia estão à cabeça. Isto não significa que uns dias passados por Bruxelas não sejam de enorme prazer. Aliás, uma visita à Bélgica não fica completa sem conhecermos a capital, que é uma cidade interessante com um centro histórico muito acolhedor. 

Nos dias passados em Bruxelas percorremos várias avenidas largas com diversos edifícios modernos, a parte periférica da cidade. Zonas com muitos sem abrigo, sendo os bairros de Anneessens, Marolles e Molenbeek zonas a evitar. Molenbeek é o bairro onde se situa a Gare du Nord, local onde chegamos à cidade, seja de comboio, seja de autocarro. Ali existe uma zona de prostituição, um "Red light district", com montras, mas com muitos transeuntes nos passeios, que aparentam ser proxenetas. Anderlecht é outro bairro, sobretudo pelo seu clube de futebol, o RSC Anderlecht ali sediado, mas também por não se recomendar em termos de segurança, sobretudo de noite.  

Bruxelas, fora do centro histórico

Bruxelas, fora do centro histórico

Bruxelas, fora do centro histórico

No coração da cidade, a Grand-Place é a sala de visitas da cidade, com o majestoso edifício da Câmara Municipal a marcar presença, rodeado por outros de beleza arquitetónica similar. Edifícios da Renascença Flamenga, pois datam dessa época, que por aqueles lados também esse movimento se fez sentir.

Qualquer cidade importante tem certamente uma praça importante, e a Grand-place é certamente a praça mais importante de Bruxelas

Grand-Place, a sala de visitas da cidade
Edifício da Câmara Municipal na Grand-Place

Edifício da Câmara Municipal na Grand-Place

Já por duas vezes tinha passado por Bruxelas, tempo insuficiente para formar uma ideia desta cidade, então desta vez, após visitar algumas cidades da Região da Flandres dediquei o restante tempo, dois dias e meio de tempo útil, a Bruxelas. Nas viagens que tenho feito tenho notado que o Mundo é um local pequeno, e desta vez concluí que Bruxelas é um local muito visitado, pois nestes dias sem que nada o fizesse prever, encontrei  um antigo colega do ISEL e um outro colega do ginásio. 

Encontro de antigos colegas, hoje engenheiros, do ISEL...o mundo é pequeno!

É à Grand-place que muitos caminhos de diversas rua do centro histórico vão dar, pelo que a curta distância facilmente encontramos o Manneken Pis. Apesar da sua pequenez e facilmente passar despercebido, trata-se do símbolo da cidade. Esta pequena fonte de bronze, de um menino a urinar, simboliza o bom humor e a liberdade de pensamento do povo Belga. Não se sabe ao certo o que levou Hiëronymus Duquesnoy de Oudere a conceber esta obra, julgando-se que a mesma foi inspirada no filho de um duque que foi encontrado a urinar contra uma árvore no meio de uma batalha em finais do século XII, e foi, por isso, celebrizado numa estátua de bronze como símbolo da coragem militar do país. A importância da estátua é tanta que a mesma possui um enorme guarda roupa, podendo ser encontrada nua ou vestida!

Manneken Pis, vestido

Manneken Pis, despido

Manneken Pis, sim, é deste tamanho dizem estes turistas!


Pelo mundo fora a estátua tem sido replicada. Desde 1987, o Manneken Pis tem um equivalente feminino em Bruxelas, a Jeanneke Pis, localizada não muito distante deste. Ela representa uma garota agachada, urinando, e também alimenta uma pequena fonte. Não é tão famosa mas merece uma visita....


Jeanneke Pis

Jeanneke Pis


O majestoso edifício do Teatro Real, conhecido como La Monnaie / De Munt (conforme a língua, Francês ou Neerlandês) é um dos destaques da zona. 
Teatro Real La Monnaie / De Munt

A Catedral de São Micael e Santa Gudula é o templo religioso mais importante da cidade, pois homenageia São Micael, o padroeiro de Bruxelas. No seu interior, destaca-se um órgão com mais de 4.000 tubos e 4 teclados. 
Catedral de São Micael e Santa Gudula

Catedral de São Micael e Santa Gudula

Catedral de São Micael e Santa Gudula

Catedral de São Micael e Santa Gudula, imagem de São Micael, padroeiro da cidade

Junto da entrada encontramos o busto do Rei Balduíno. Um monarca importante, pois foi agraciado com várias comendas internacionais. Durante seu reinado assistiu-se a independência da República Democrática do Congo em 1960 e Ruanda e Burundi em 1962, pondo fim à condição da Bélgica como potência colonial. 

Busto do Rei Balduíno junto da Catedral de São Micael e Santa Gudula

As famosas Galerias Saint Hubert também são ponto de passagem obrigatória por esta parte da cidade. 
Galerias Saint Hubert

Junto do centro histórico, dirigindo-nos para a zona da Montanha das Artes, a parte alta da cidade, encontramos diversos edifícios governamentais e um jardim. 
Montanha das Artes

Montanha das Artes

Destaca-se o Palácio do Coudenberg que foi a residência oficial da família real. Atualmente é o Palácio Real, a curta distância que serve de residência oficial. Desde 1965, pode ser visitado, de 21 de Julho (feriado nacional) até o início de Setembro.  
Montanha das Artes, Palácio do Coudenberg

Impossível não reparar no carrilhão, um relógio que todas as horas toca uma melodia.
Carrilhão do Montanha das Artes.

A zona da Montanha das Artes permite desfrutar de bonitas vistas para o centro histórico.
Centro histórico vista desde a Montanha das Artes, com destaque para a Torre da cidade dao edifício da Câmara Municipal

René François Ghislain Magritte é um nome a fixar por quem visitar a Bélgica, existindo um museu a ele dedicado, o Museu Magritte. Ele foi um dos artistas surrealistas nacionais, tendo vivido entre o final do século XIX e século XX. Algumas das suas obras principais estão aqui expostas, destacando-se as obras de "O império da Luz", A Montanha no ninho", "Os Amantes", ou "A condição humana".

Museu Magritte


Museu Magritte, "O império da Luz"

Museu Magritte, "A Montanha no ninho"


Bruxelas em termos culturais não se compara com Amesterdão, mas a visita ao Museu Magritte, que pertence se encontra englobado nos Museus Reais de Belas-Artes da Bélgica,  não deixa de ser enriquecedora. Na entrada encontramos duas excelentes obras que nos fazem refletir sobre a história deste país.
O "Episódio da Revolução Belga de 1830" de Gustaf Wappers, que nos remete para os movimentos independentistas Belgas. A Bélgica tal como a conhecemos é um país jovem, que conquistou a independência do Reino dos Países Baixos. Nos dias de hoje possui várias línguas oficiais, duas delas, o Francês e o Neerlandês, totalmente diferentes. Mesmo tratando-se de um país pequeno, ao viajarmos entre essas regiões, sentimos que chegamos a outro país completamente diferente, pois os habitantes não falam a outra língua.


"Episódio da Revolução Belga de 1830" de Gustaf Wappers


"O desfile das escolas em 1878" de Jan Verhas. A obra invoca o valor da Educação, pilar do desenvolvimento da sociedade. Por ocasião do casamento do Rei Leopoldo II e da rainha Maria Henriqueette, cerca de 23 mil alunos das escolas dos distritos de Bruxelas desfilaram para os monarcas. Vejamos, só da região de Bruxelas, 23 mil alunos frequentavam a escola, em tempos que sul da Europa reinava o analfabetismo...

"O desfile das escolas em 1878" de Jan Verhas.

Obviamente ir a Bruxelas, é fundamental visitar o seu edifício mais emblemático, o Atomium, um edifício que está para Bruxelas como a Torre Eiffel está para Paris. À semelhança desta, foi construído para uma exposição universal, a Expo 58. Com 102 metros de altura, a sua arquitetura, representa um cristal elementar de ferro ampliado 165 milhões de vezes, com tubos que ligam as 9 partes formando 8 vértices. Aquilo que nos tempos do ISEL dei em tecnologia Mecânica, uma estrutura cristalina CCC-Cúbica de Corpo Centrado. 

Atomium

O edifício vale sobretudo pelo seu exterior, o seu interior tem aspetos futuristas, sendo acessível por escadas rolantes e elevador a vários pontos.
Atomium, interior
As vistas panorâmicas de vários pontos de observação do interior, para a área envolvente exterior, merecem destaque, podendo observar-se por exemplo, a Mini Europa, uma atração turística famosa que de momento se encontrava encerrada. Uma área que representa em miniatura vários monumentos e atrações turísticas do "Velho continente".
Mini Europa visto do alto do Atomium

Visível dali é o Estádio Rei Balduíno, o local onde a Seleção Nacional de futebol belga disputa os seus jogos em casa, tendo sido construído em 1930, e sofrido várias remodelações ao longo dos anos. Conhecido por Estádio de Heysel, pois situa-se no Planalto de Heysel. O nome de Heysel causa arrepios em qualquer adepto de futebol. O estádio é famoso pelos piores motivos, pois foi palco de uma tragédia monstruosa no dia da final da Taça dos Campeões Europeus de 1985, entre Liverpool e Juventus, conhecida como a Tragédia de Heysel. Adeptos ingleses, nesses tempos não se recomendavam, tinham um comportamento violento, bebiam em excesso antes dos jogos e destruíam tudo por onde passavam, eram chamados de “Holligans”. Os Italianos, conhecidos por “Tiffosi” também não eram flores que se cheirassem. Antes do jogo, já o exterior do estádio havia sido palco de desacatos e destruição, depois no interior, adeptos do Liverpool resolveram atacar os adeptos da Juventus, encontravam-se na mesma bancada, separada por uma grade, que acabou por ceder. Os adeptos da Juventus, acabaram por ser espezinhados, linchados e empurrados contra um muro que também acabou por ceder, arrastando vários deles na queda. 39 mortos e 600 feridos, o trágico balanço.  Não obstante a tragédia, talvez para evitar que as coisas piorassem, o jogo realizou-se, sendo o resultado o menos importante, e o nem o facto do penalty, convertido por Platiny, que deu origem à vitória da Juventus por 1-0, ter sido mal assinalado, se discute!  As autoridades britânicas, encabeçadas pela toda-poderosa Margaret Thatcher tiveram mão pesada, criaram leis com vista a banirem claques dos estádios, e corroboraram com a UEFA na responsabilização dos Hooligans pela tragédia, que decretou severas penalizações aos clubes ingleses, pois durante 5 anos ficaram proibidos de participarem em competições europeias. Anos depois de ser remodelado, foi palco de jogos do Euro ́2000, onde Portugal perdeu contra a França campeã do Mundo, o acesso à final devido a um penalty, este ainda hoje se discute, de Abel Xavier, já no prolongamento do jogo. Zidane converteu, Portugal perdeu por “golo de ouro”, que na altura vigorava. Só agora entra nesta lista dos estádios que visitei. Em 2006 fiz o tour deste estádio, estive inclusivamente no local onde o árbitro auxiliar viu a célebre e polémica mão na bola, e acabou por chamar o árbitro, Günter Benkö  que imediatamente marcou penalty. Infelizmente as fotos que tirei, eram “de rolo”, ficaram estragadas. Em 2024, o estádio encontrava-se em obras, sendo impossível visitar.

Estádio Rei Balduíno visto do alto do Atomium


O que considero o mais importante da minha estada por Bruxelas foi a visita ao Parlamento Europeu. O complexo de edifícios onde se destaca um contendo uma exposição sobre a formação da União Europeia, e diversos temas da história da Europa, não deixando de estar presente o Holocausto e a Queda do Regime Comunista, e o posterior alargamento da União Europeia a Leste.

Complexo do Parlamento Europeu

Complexo do Parlamento Europeu

Complexo do Parlamento Europeu

Complexo do Parlamento Europeu, exposição

Complexo do Parlamento Europeu, exposição

Complexo do Parlamento Europeu, exposição

Deixei a minha marca numa parte interativa, o Eurodeputado Paulo Rangel, não foi esquecido. O homem também tem direito a cometer os seus excessos!

Complexo do Parlamento Europeu, exposição, deixei a minha marca!

Complexo do Parlamento Europeu, exposição, deixei a minha marca!


A visita ao edifício onde se encontra a sala do Hemiciclo é sem dúvida o maior destaque.
Complexo do Parlamento Europeu, Hemiciclo

Complexo do Parlamento Europeu, edifício do Hemiciclo
Complexo do Parlamento Europeu, edifício do Hemiciclo

Complexo do Parlamento Europeu, edifício do Hemiciclo

Voos:

Ryanair voa direto de Lisboa para Bruxelas, utilizando o aeroporto Bruxelas Charleroi.Desde o aeroporto existem autocarros para o centro da cidade de Charleroi, e para Bruxelas, através da companhia Flibco

Deslocações na Bélgica:

De comboio através da companhia SNCB é possível aceder à maior parte das cidades do país. Note-se que o preço das viagens de comboio na Bélgica é elevado. De autocarro, é mais económico, sendo possível utilizar a plataforma FLIXBUS, as viagens são em auto estrada, sendo as paragens localizadas perto das respetivas estações de comboio principais. 

Alojamento económico

A curta distância do centro da cidade, é possível encontrar alojamento económico em quartos partilhados. O Youth Hostel Jacques Brel foi a minha escolha. Se o nosso objetivo é poupar dinheiro no alojamento, recomendo aqui ficar. Tem as condições mínimas para dormir, tomar banho e ainda inclui pequeno almoço em regime self service.

Comer e beber

Bélgica em termos gastronómicos, além da cerveja, possuindo mais de 3 mil marcas diferentes, os wafle, os chocolates, a batata frita e os mexilhões,  pouco mais relevante deve existir...
Julga-se que a batata frita foi ali inventada. Batatas Belgas, conhecidas em todo o Mundo, as  friet (ou frites) são consumidas também na rua como fast food, vendidas em quiosques especializados chamados de fritkot (ou frituur). Secas, crocantes por fora e macias por dentro, são um regalo. O segredo é o tipo de batata, a "bintje" que possui alta quantidade de amido e permite uma boa resistência ao cozimento, sem absorver muito óleo. São lavadas em água fria e depois secas num pano antes da fritura. E quanto à fritura aqui vai o verdadeiro segredo.  É feita em gordura bovina e não em óleo vegetal, e em duas etapas: num primeiro banho, mais demorado, a uma temperatura de 130ºc, a operação que se chama bringir. Depois disso, a batata descansa, arrefece e na hora de servir é frita novamente a 180ºc até dourar. Esta é a razão porque muitas fritadeiras das cozinhas industriais são duplas. Uma parte para bringir e a outra para fritar! Batatas fritas que acompanham normalmente outros fritos, também em gordura bovina.


Fritaria, as batatas fritas tradicionais

O prato Nacional são os mosselen-friet chamados assim em grande parte do país que fala a língua a língua Neerlandesa, mas são também chamados de moules-frites no lado Francófono. Tal como em França são mexilhões confecionados numa panela com azeite, temperos e salsa, acompanhados de batatas fritas, Belgas pois claro! Recomendo o Restaurante Chez Léon 1893, um local tradicional no centro de Bruxelas. 


Moules-frites

Em relação aos doces, os wafles, por cá conhecidos por gaufres, e assim também chamada pelos Francófonos, são um regalo. Esta iguaria mundialmente famosa é um género de panqueca de massa doce, podendo ser recheada por cima com gelado, chocolate ou qualquer outro sabor

Wafles

O chocolate Belga deu-se a conhecer ao Mundo no século XVII, e desde aí que é imperdoável um turista não o comprar. É inclusive vendido a peso em diversas lojas especializadas, nomeadamente em Bruxelas junto à Grand Place
Quanto à cerveja aconselho uma ida ao Delirium Village a dois passos da Grand Place, o bar que vende a maior variedade de cervejas do Mundo e é isso mesmo, faz jus ao nome, um verdadeiro delírio!

Uma cerveja no Delirium Village







Comentários

Mensagens populares deste blogue

Islândia, parte 1: Akureyri e Húsavík, as duas pérolas do norte

Islândia, parte 2: Reykjavík, a capital

Em 3 dias, o melhor da Bélgica Francófona