Islândia, parte 1: Akureyri e Húsavík, as duas pérolas do norte

Visitar a Islândia é um momento alto para qualquer amante de viagens. A ilha, conhecida internacionalmente por "Iceland", traduzido por "Terra do gelo" fica localizada próximo do teto do mundo, fazendo jus a isso, pois no Inverno, vista do ar é coberta de um manto branco, de neve de gelo. É um país onde as atrações da natureza são a sua maior oferta, a Tundra Ártica. Vulcões, glaciares, montanhas, cascatas, fiordes, parques nacionais, praias escuras com formações rochosas, simpáticos cavalos, uma raça protegida, a mais pequena de todas, papagaios do mar, raposas do ártico, focas, andorinhas do ártico, ovelhas e claro, as baleias, fazem parte de uma lista interminável.

Após visitar a Noruega em 2023 seria uma injustiça não juntar a Islândia ao rol. Assim, marquei uma visita de 9 dias a este país, para 2024. Aos 6 dias passados na capital Reykjavík, de onde fiz diversos tours pelas suas proximidades, juntei 3 dias pelo norte da Ilha. A estrada foi por Akureyri, tendo aproveitado para conhecer esta cidade e também Húsavík, que se localiza a cerca de 80 km.

Islândia vista do ar, Iceland, pois claro!!!!

Akureyri (3 noites)

Trata-se de uma pequena cidade sendo a quarta maior do país, com cerca de 17 mil habitantes. É considerada a capital do Norte da ilha, possuindo a segunda maior área metropolitana, depois da capital Reykjavík. Localiza-se cerca de 100 Km abaixo do Círculo Polar Ártico, nas margens do Fiorde Eyjafjörður na Montanha Súlur.

A cidade é pequena, um dia é mais que suficiente para a conhecer, percorre-se facilmente a pé, o seu aeroporto, que recebe voos domésticos e internacionais, localiza-se cerca de 4 Km do centro, caminho plano que facilmente calcorreamos, pelas margens do Eyjafjörður por passadiços, ciclovias e passeios. Era inverno, as ruas com bastante neve, gelo e a água do mar, em parte congelada, mas não deixou de ser fascinante!

Akureyri, margens do Fiorde Eyjafjörður

Akureyri, estátua ´Rabo de peixe´ nas margens do Fiorde Eyjafjörður

Akureyri, estátua ´Vela´, nas margens do Fiorde Eyjafjörður

Akureyri, vista do alto para o Fiorde Eyjafjörður

O centro da cidade é dominado pela Igreja de Akureyri, a Akureyrarkirkja, templo religioso Luterano à semelhança da maior parte dos templos religiosos Islandeses. Este símbolo da cidade foi projetado por Gudjon Samuelsson, o mesmo arquiteto que projetou a Catedral de Reykjavík (Hallgrímskirkja), sendo consagrada em 1940. No seu interior, o vitral central acima do altar fazia parte de um conjunto originário da Inglaterra. Os baixos-relevos da varanda da nave são da autoria do escultor Asmundur Sveinsson e a pia batismal é uma réplica de uma obra do escultor Bertel Thorvaldsen. Dada a sua localização, na subida da montanha, permite bonitas vistas sobre o casario e sobre as margens do Eyjafjörður.

Akureyri, Igreja, Akureyrarkirkja

Akureyri, Igreja, Akureyrarkirkja (interior)

Subindo mais um pouco encontramos o Jardim Botânico, que dado o seu micro clima, alberga uma grande variedade de espécies de plantas, cerca de 6000 tipos de vegetais, dos quais 400 deles são nativos. Acredito que seja bastante interessante no Verão, naquele dia estava coberto de neve, mas não deixou de ser interessante visitá-lo. Das imediações, próximo de um hospital, podemos desfrutar de bonitas vistas para o Eyjafjörður.

Akureyri, Jardim Botânico

O Centro da cidade possui como rua principal a Hafnarstraeti, com cerca de 1,5 Km, que possui diversas lojas, sobretudo de roupas tradicionais, talvez não sejam assim tão sazonais, adaptadas ao frio nórdico que se sente por aqueles lados quase todo o ano, souvenirs, restaurantes, bares e possui uma vida noturna bastante interessante aos fins de semana.

Akureyri, centro da cidade visto junto da Igreja Akureyrarkirkja

Akureyri, Hafnarstraeti, a rua principal

A Hafnarstraeti atravessa a Ráðhústorg, a praça mais importante da cidade. Aqui destaca-se a estátua de madeira do Gato do Natal. A origem do Gato de Natal islandês é desconhecida, mas assemelha-se a outras criaturas que em outros países se usam como símbolo da época, como por exemplo as renas. Existe inclusivamente um ditado islandês que diz, “não deixes que o Gato do Natal te apanhe”, baseado no mito de que o bicho virá comer aqueles que não receberem roupas novas antes do Natal, ou, para os mais benevolentes, que o gato virá comer a comida de quem não recebeu roupas novas!

Akureyri, Ráðhústorg, a praça mais importante da cidade, Gato do Natal

Akureyri, Ráðhústorg, a praça mais importante da cidade

Akureyri, Câmara Municipal

É na zona do Centro Histórico que a Hafnarstraeti tem início. Nesta zona muitas das casas mais antigas da cidade foram preservadas e o traçado original das ruas foi mantido. A área é considerada como um monumento à história e cultura de Akureyri, pois foi ali que começou a sua formação. O nome de Akureyri remonta ao século XV, mas só em 1778 foi construída a primeira habitação no local. O edifício mais antigo que ainda resta, a Laxdalshús, foi construído em 1795. Akureyri nasceu como uma pequena cidade portuária, e ali perto, onde funciona um clube náutico, situava-se o seu porto principal, que atualmente localiza-se a norte. Durante a II Guerra Mundial, o Porto de Akureyri foi utilizado pelas Forças Aliadas, pois as mesmas invadiram a Islândia, que assim acabou por cooperar com elas, antecipando-se desta forma aos Nazis. Ao longo dos anos, a cidade foi crescendo, subindo pela da montanha. O Teatro, a antiga Escola Primária e o Antigo Hospital são alguns dos edifícios que podem ser observados.

Akureyri, Centro Histórico, Teatro

Akureyri, Centro Histórico

Esta zona, é talvez a responsável por Akureyri ser tida como a cidade mais bonita da Islândia. Ela possui diversos museus, que terão o seu interesse, mediante o tempo e o orçamento. A Islândia é um país caro, e os museus não fogem à regra, logo, em Akureyri não os incluí no meu itinerário. Aos "motoqueiros", recomendo, como já o fiz a um meu antigo colega do ISEL, fanático por "vespas", a visita ao Museu do Motociclo da Islândia, pois eles certamente darão as suas 1600 Kr (Coroas Islandesas) por bem empregues! Para passar as últimas horas em Akureyri, dado o meu voo para Reykjavík ser à noite, a minha escolha foi a Piscina pública, onde é possível relaxar na água, aquecida através de energia geotérmica, entre 37ºc e 42ºc, no jacuzzi, no banho turco e ainda experimentar os escorregas aquáticos, tudo isto por um preço que ronda os 10€.

Húsavík (bate volta desde Akureyri)

Se Akureyri é pequena, então que dizer de Húsavík! Trata-se de uma cidade costeira, na Baía de Skjálfandi, com pouco mais de 2 mil habitantes! Os cerca de 80 Km que a separam de Akureyri, percorrem-se em pouco mais de uma hora. O caminho mete respeito, pois as atravessa paisagens planas cobertas de neve, as chamadas Terras Altas Islandesas, que compreendem os planaltos e montanhas do centro do país, com uma altitude superior a 500 metros, sendo consideradas como regiões desérticas e desabitadas, com um solo rochoso, sobretudo basáltico, dada a origem vulcânica da ilha.

Húsavík

Húsavík, porto

Húsavík, Baía de Skjálfandi

Húsavík, Baía de Skjálfandi e porto

Húsavik percorre-se rapidamente a pé, possuindo uma estrada a partir da qual se desenvolve o seu casario colorido e de traçamento característico destas paragens, sobressaindo do mesmo Igreja Húsavíkurkirkja, mais um templo religioso Luterano, construído no início do século XIX, em madeira, inspirado nos chalés suíços.

Húsavík, Igreja Húsavíkurkirkja

Uma das ruas, a Höfðavegur faz lembrar a Lombard St. de São Francisco que vemos nos filmes, uma das cidades que sonho visitar.

Húsavík, Höfðavegur

Caminhando um pouco pelo interior chegamos a um parque, o Skrúðgarður.

Húsavík, Skrúðgarður (parque)

Húsavík é um dos locais prediletos para partir mar adentro e observar baleias. É chamada de capital islandesa das baleias. Haja possibilidades disso acontecer, o mar muitas vezes não o permite e é necessário um orçamento mais alargado pois esta atividade que dura cerca de 3 horas, ronda os 90 Euros. Existe um museu dedicado a estes seres, o Museu da Baleia de Húsavík (Hvalasafnið á Húsavík) bastante interessante, cuja entrada custa cerca de 15 Euros. Foi a minha opção para passar o resto do tempo. Estes gigantescos animais, que apesar de habitarem nos oceanos, são mamíferos, existem há alguns milhões de anos, correm riscos de extinção, uma destas espécies, a baleia azul, pode medir até 30 m e pesar mais de 180 toneladas, sendo por isso considerado por diversos biólogos como o maior animal que já habitou o nosso planeta. Esqueletos, um coração, órgãos reprodutores, encontram-se expostos. A área dedicada à sua preservação, que os ecologistas e ambientalistas tanto se preocupam, a caça às mesmas que é levada em vários países do norte da Europa, como por exemplo a Noruega e as Ilhas Faroé, é relatada com enorme tristeza e repúdio. Este museu foi reconhecido como uma instalação educacional pelo Ministério da Educação da Islândia. No final da visita, confesso que após já ter visitado Bergen na Noruega, e me ter gabado de por lá, de ter comido carne de baleia, senti algum arrependimento...mas não me pretendo tornar veggie!

Húsavík, Museu da Baleia de Húsavík (Hvalasafnið á Húsavík)

Existe um outro museu tido como importante para a cidade, o Museu de Exploração (Könnunarsögusafnið) dedicado à história da exploração humana desde os primeiros exploradores até a exploração do espaço. A exploração Viking e mais recentemente o programa de treino de astronautas da Missão Apollo, que ocorreu perto de Húsavík entre 1965 e 1967, estão por lá documentados. O tempo era curto e ter de despender mais 15 Euros não me motivou a visitá-lo.

Impossível não falar em Húsavík sem uma lindíssima nota musical. Antes de viajar faço um "trabalho de casa" ao longo de vários meses que inclui ver filmes nos quais se retratam os locais onde pretendo ir. Quando me propus visitar a Islândia, o planeamento inicial seria apenas ficar em Reykjavík e daí fazer vários tours organizados. Porém, os 9 dias de viagem que marquei seriam excessivos para isso, pois para Reykjavík, 2 dias são mais que suficientes para conhecer a cidade, e 3 tours desde Reykjavík, ida e regresso, de um dia, são suficientes para ver o mais importante do país. Após pesquisar, decidi ficar 3 dias em Akureyri, e daí, eventualmente, fazer um bate volta a Húsavík, o que só foi decidido no último momento. Isto justifica o meu desconhecimento do filme "Eurovision Song Contest: The Story of Fire Saga" e da exposição que existe na cidade acerca do mesmo. O filme, é uma comédia musical, americana, que trata de dois músicos de Húsavík que sonham em concorrer e ganhar o festival da Eurovisão, pois foi assim que os ABBA (banda sueca) se catapultaram para o estrelato com "Waterloo" em 1974. Após várias peripécias conseguem chegar à final, mas a música que cantam não é a mesma com que concorreram. São desclassificados, mas a música tocou nos corações de todos, e catapultou Húsavík, uma pequena cidade desconhecida, localizada lá nos confins de uma ilha perto do teto do mundo, para a fama. O filme é de facto um hino à Islândia, mostra lindíssimas paisagens, e também a cidade de Húsavík, bem como Edimburgo e Glasgow na Escócia, cidades onde já estive! Daí me ter apercebido que o filme consegue inclusivamente transferir o "OVO Hydro" de Glasgow para Edimburgo! O cinema é também a arte da ilusão! Após regressar da Islândia fiz questão de ver o filme, o que me causou um sentimento de enorme nostalgia! A lindíssima banda sonora, Husavik (My Hometown) descreve na perfeição um dia passado em Húsavík. "Where the mountains sing through the screams of seagulls. Where the whales can live 'cause they're gentle people"

Voos:

Desde Lisboa

A PLAY Airlines voa direta de Lisboa para Reykjavík. Paguei i/v cerca de 240€ (compra em 10/11/2023, viagem em 23/2/2024, sem bagagem de porão).

O Aeroporto Keflavík, é internacional, localiza-se a cerca de 50 Km de Reykjavík. Para chegar a Reykjavík, a forma mais económica, é reservar um transfer, de autocarro, numa das companhias existentes, a Reykjavík Excursions ou a Airport Direct. É possível fazê-lo pela plataforma Get your Guide. Os turistas que visitam a Lagoa Azul, dada a sua proximidade com o Aeroporto Keflavík, normalmente fazem-no quando viajam de ou para o mesmo. Existem serviços de transfer entre o Aeroporto Keflavík e a Lagoa Azul, e entre esta e Reykjavík, podendo marcar-se através da companhia Destination Blue Lagoon, sendo também possível fazê-lo pela plataforma Get your Guide.

Os voos provenientes de Lisboa, aterram no Aeroporto Internacional Keflavík pelas 2h30 (manhã). A minha opção foi ficar à espera no terminal e daí apanhar o transfer para a Lagoa Azul. Marquei assim, transfer às 7h30, entrada na Lagoa Azul às 9h. Posteriormente transfer para o Aeroporto Doméstico de Reykjavík às 14h15.

Dentro da Islândia

A Icelandair efetua diversos voos domésticos. Entre Reykjavík e Akureyri, paguei i/v, cerca de 170€ (reservado via Edreams com cerca de 20 dias de antecedência) Reykjavik é servido por um aeroporto doméstico tal como Akureyri. Localizam-se próximos do centro da cidade e são minúsculos. Percorri esse caminho a pé!

Aeroporto Doméstico de Reykjavík

Akureyri, Aeroporto, avião da Icelandair, rumo a Reykjavík

Autocarros de longo curso

A companhia nacional Strætó circula por todo o país. Porém, não é possível efetuar reservas antecipadas, nem online, os horários são restritos e existem cancelamentos. Daí ter só à última hora ter decidido ir de Akureyri a Húsavík. O autocarro de ida,era uma carrinha que não tinha mais de 9 lugares, e no regresso deveria ter uns 20! Entre Reykjavík e Akureyri o preço de uma viagem de autocarro não é muito diferente do avião. De autocarro a viagem dura cerca de 7 horas e não existem autocarros que façam o percurso durante a noite. De avião são cerca de 45 minutos...

Alojamento

Recomendo o FE Gisting. Trata-se de uma moradia, transformada em alojamento local, localizada perto da Piscina Pública e do centro da cidade. Confortável e com pessoal atencioso. Por 3 noites, em quarto individual com casa de banho, paguei 194€, reservado pelo Booking. Bom preço, tendo em conta o nível de preços do país e sobretudo desta cidade, tida como mais cara que a capital.

Comer e beber

Se há países onde a alimentação custa ouro, na Islândia deve custar diamante! Mesmo no supermercado os alimentos são caríssimos. Ir a um restaurante, então, é garantia de sair depenado! A Islândia possui uma gastronomia onde o bacalhau e o salmão têm forte presença, mas ao contrário da Noruega, na Islândia, sobretudo em Húsavík, as baleias são animais protegidos e muito apreciados, não servem para alimentação humana. Assim diz a letra da lindíssima música "Husavik (my hometown)", "where the whales can live, ´cause they are gentle people"!

O fast food é o recurso mais que óbvio, podendo uma refeição custar na casa dos 25€. O cachorro Islandês cujas salsichas incluem carne de cordeiro na sua composição, segundo dizem, feito com produtos naturais, pois a carne provém de animais criados no meio da natureza. Em Akureyri, numa banca de rua, esta foi de facto a primeira iguaria islandesa que experimentei! A segunda foi a sopa de cordeiro, a kjötsúpa, em Húsavík, junto da paragem de autocarro, numa área de serviço. Foram 15€... Quanto às bebidas alcoólicas, não se deve esquecer que na Islândia o consumo de cerveja foi proibido durante mais de 70 anos. A 1 de Março de 1989 voltou a ser autorizado! Das várias marcas, a Gull é talvez a mais conhecida. Preparem-se para pagarem cerca de 10€ por uma imperial!

Cachorro islandês

kjötsúpa (sopa de cordeiro)

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